Análise de Impacto Financeiro: O Custo da Cirurgia vs. O Valor da Fisioterapia
- Fisioterapeuta Online
- 13 de ago.
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Público-Alvo: Plano de Saúde com 100.000 Beneficiários Objetivo: Estimar a economia anual potencial ao implementar um programa de "Fisioterapia Primeiro" para condições ortopédicas de coluna, joelho e ombro.
Introdução: O Custo Oculto da Cirurgia
O custo de uma cirurgia ortopédica vai muito além do procedimento em si. Ele engloba uma cadeia de despesas de alto impacto que pressionam a sinistralidade de qualquer plano de saúde:
Materiais de Alto Custo (OPME): Próteses, parafusos, âncoras e placas representam uma parcela massiva do custo total.
Hospitalização: Diárias em leito hospitalar e, em casos complexos, em UTI.
Complicações: Infecções hospitalares, trombose e outras intercorrências que prolongam a internação e geram novos custos.
Reincidências e Revisões: A "Síndrome Pós-Laminectomia" ou "Failed Back Surgery Syndrome" pode atingir até 40% dos pacientes de coluna, levando a novos ciclos de exames, medicamentos e, frequentemente, a cirurgias de revisão ainda mais caras e complexas.
Custos Indiretos: Afastamento do trabalho, tratamentos para dor crônica (incluindo opioides) e uma queda permanente na qualidade de vida do beneficiário.
Riscos Graves: Embora menos comuns, complicações fatais ou que geram incapacidade permanente representam o maior custo possível, tanto humano quanto financeiro.
A abordagem da Fisioterapia Primeiro não apenas oferece uma alternativa clínica, mas desmonta essa cadeia de custos desde o início.
Análise por Segmento Ortopédico
Para esta projeção, utilizaremos dados epidemiológicos conservadores para estimar o número de candidatos à cirurgia em uma população de 100.000 pessoas e aplicaremos as taxas de sucesso e custos encontrados em estudos de referência.
1. Coluna Lombar e Cervical
A dor nas costas é uma das principais causas de procura por serviços de saúde. O estudo de Martin et al. (2008) já apontava os custos astronômicos associados a esses problemas. O estudo brasileiro de Antonioli et al. (2023) nos fornece os dados financeiros mais precisos para nossa realidade.
Premissas:
Estima-se que 0,5% da população (500 beneficiários) por ano se tornem fortes candidatos à cirurgia de coluna.
Taxa de reversão da indicação cirúrgica com o programa de segunda opinião: 59% (conforme Antonioli et al.).
Custo médio do tratamento cirúrgico: R$ 87.700.
Custo médio do tratamento conservador: R$ 5.300.
Economia direta por paciente: R$ 82.400.
Cálculo de Economia:
Número de cirurgias potencialmente evitadas: 500 candidatos * 59% = 295 cirurgias.
Economia anual potencial com coluna: 295 * R$ 82.400 = R$ 24.308.000.
2. Joelho (Artroscopia para Lesão Meniscal Degenerativa)
Esta é uma das cirurgias ortopédicas mais comuns. No entanto, múltiplos estudos de alta qualidade questionam sua eficácia em comparação com a fisioterapia para casos degenerativos. Uma pesquisa de referência publicada no British Medical Journal (BMJ) por van de Graaf et al. (2018) comparou os dois tratamentos.
Premissas:
Estima-se que 0,3% da população (300 beneficiários) por ano se tornem candidatos à artroscopia de joelho por condições degenerativas.
Taxa de sucesso da fisioterapia em evitar a cirurgia: Estudos mostram que os resultados são equivalentes em médio e longo prazo. Adotaremos uma taxa conservadora de 50% de cirurgias evitadas com um programa estruturado.
Custo médio da artroscopia de joelho (incluindo hospital, equipe e materiais): R$ 20.000.
Custo médio de um programa completo de fisioterapia para joelho: R$ 3.000.
Economia direta por paciente: R$ 17.000.
Cálculo de Economia:
Número de cirurgias potencialmente evitadas: 300 candidatos * 50% = 150 cirurgias.
Economia anual potencial com joelho: 150 * R$ 17.000 = R$ 2.550.000.
3. Ombro (Síndrome do Impacto e Lesões não Traumáticas do Manguito Rotador)
Assim como no joelho, a cirurgia para descompressão subacromial tem sido amplamente questionada. O ensaio clínico FIMPACT, publicado no Annals of the Rheumatic Diseases, é um dos muitos que concluíram que a cirurgia não oferece benefício adicional em comparação com a fisioterapia.
Premissas:
Estima-se que 0,2% da população (200 beneficiários) por ano se tornem candidatos à cirurgia de ombro por síndrome do impacto.
Taxa de sucesso da fisioterapia em evitar a cirurgia, baseada em evidências de eficácia similar: 60%.
Custo médio da cirurgia de ombro (acromioplastia): R$ 25.000.
Custo médio de um programa completo de fisioterapia para ombro: R$ 3.500.
Economia direta por paciente: R$ 21.500.
Cálculo de Economia:
Número de cirurgias potencialmente evitadas: 200 candidatos * 60% = 120 cirurgias.
Economia anual potencial com ombro: 120 * R$ 21.500 = R$ 2.580.000.
Consolidação e Potencial de Economia Total
Somando as projeções conservadoras para apenas estas três articulações, o impacto financeiro para um plano de 100.000 vidas é monumental.
Articulação | Cirurgias Evitadas (Estimativa) | Economia Potencial Anual |
Coluna | 295 | R$ 24.308.000 |
Joelho | 150 | R$ 2.550.000 |
Ombro | 120 | R$ 2.580.000 |
TOTAL | 565 | R$ 29.438.000 |
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Conclusão Estratégica
A implementação de um programa estruturado de "Fisioterapia Primeiro" pode gerar uma economia direta de quase 30 milhões de reais por ano para um plano de saúde de 100.000 beneficiários.
Esta estimativa é conservadora, pois não quantifica os custos secundários evitados, como o manejo de complicações pós-operatórias, tratamentos para dor crônica e os altíssimos custos de cirurgias de revisão.
A questão não é se a fisioterapia é mais barata. A ciência moderna, exemplificada pelos artigos citados, demonstra que para uma vasta gama de condições, a abordagem conservadora é clinicamente equivalente ou superior, com um perfil de segurança incomparável e a um custo drasticamente menor. Ignorar essa evidência não é apenas um desserviço ao beneficiário; é uma falha estratégica na gestão da sustentabilidade do plano de saúde.
Referências Adicionais Utilizadas na Análise:
Van de Graaf VA, et al. Effect of early surgery vs physical therapy on knee function among patients with nonobstructive meniscal tears: the ESCAPE randomized clinical trial. JAMA. 2018.
Paavola M, et al. Subacromial decompression versus diagnostic arthroscopy for shoulder impingement: randomised, placebo surgery controlled clinical trial. BMJ. 2018.

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